A ACM, conhecida como YMCA em inglês, é a mais antiga instituição de caridade para jovens, sendo a válvula de escape para jornadas desumanas no capitalismo.
A Associação Cristã de Moços foi fundada em Londres no ano de 1844, em meio a um cenário de grande agitação social pós-Revolução Industrial. Enquanto a falta de regulamentação trabalhista levava muitos operários, incluindo crianças, a jornadas exaustivas nas fábricas, o capitalismo propiciava uma circulação de dinheiro sem precedentes na cidade.
Com o intuito de oferecer suporte e oportunidades para os trabalhadores, a Associação Cristã de Moços expandiu suas atividades para diversas regiões, incluindo os Estados Unidos, onde ficou conhecida pelo acrônimo YMCA. A presença da YMCA se tornou um símbolo de apoio e desenvolvimento comunitário, promovendo valores de solidariedade e crescimento pessoal.
Associação Cristã de Moços: uma instituição de caridade global
Até para extravasar o estresse da rotina insalubre nas indústrias, muitos encontravam nos cada vez mais presentes atrativos ligados aos prazeres a válvula de escape, o jeito de viver o pouco tempo livre que restava. Bares e bordéis se espalhavam pela cidade. Crianças, jovens e adultos se misturavam. Foi neste contexto que surgiu a Associação Cristã de Moços (ACM). Ou YMCA, na sigla em inglês. Considerada a mais antiga instituição de caridade para jovens do mundo, a instituição hoje congrega 65 milhões de associados em 120 países. No Brasil, onde chegou em 1893, conta com 54 mil associados.
Globalmente, são mais de 12 mil unidades, apoiadas por 920 mil voluntários e 90 mil profissionais, diz Eudes Araujo, secretário-geral da ACM/YMCA Brasil. No Brasil, são 35 unidades, contando com 1.355 voluntários e 1.645 profissionais. A primeira unidade brasileira foi no Rio de Janeiro — na época, não havia nenhuma outra na América Latina. Conforme relata o livro Rio Antigo, publicado pelo jornalista e memorialista Charles Jullius Dunlop (1908-1987) em 1963, funcionava ‘numa pequena sala’ no sobrado de um antigo prédio no centro. ‘Seu fim é educar, seu lema é servir. Não tem intuitos comerciais nem políticos. Não faz, tampouco, propaganda religiosa, posto que tenha ideal religioso – por isso se chama cristã. Seu emblema é um triângulo equilátero que mostra o equilíbrio dos valores básicos do indivíduo nos seus aspectos espiritual, intelectual e físico. Nesta harmonia encontra-se o homem integral que é, em síntese, o objetivo da Associação Cristã de Moços, escreveu ele. Dunlop elogiava os, para ele, imutáveis ‘princípios morais e espirituais’ da ACM.
‘A noção de fraternidade, na Associação Cristã de Moços, é uma coisa real e imaculável. Todos ali se estimam, não há choques de interesse, nem podem medrar sentimentos egoísticos. É uma instituição ideal e, efetivamente, de uma vantagem extraordinária para os moços’, disse o jornalista. ‘Nada mais útil, numa grande cidade, onde vivem tantos jovens afastados das suas famílias. Refugiando-se em seu seio, nas horas de suspensão do trabalho, evitam o vício e as seduções malignas.’ Ele ainda notou que empresários cariocas apoiavam a instituição porque nela viam que seus empregados estudavam e trilhavam ‘o caminho da decência e da honestidade’.
‘Cristianismo atlético’ O fundador do projeto foi o inglês George Williams (1821-1905), um filho de fazendeiros de Somerset que, aos 20 anos, mudou-se para Londres para trabalhar em uma loja de tecidos. Depois de infância e adolescência problemáticas — o próprio Williams, mais tarde, se descreveria como um ‘jovem desmanzelado, impulsivo, ímpio e dado a xingamentos’ — ele se converteu ao cristianismo congregacionalista, frequentando a igreja King’s Weig House. Aos poucos, o funcionário foi crescendo na empresa. Mais tarde, ele se casaria com a filha do proprietário e, com a morte do sogro, em 1863, se
Associação Cristã de Moços: promovendo a fraternidade e o equilíbrio
tornou dono da loja. Williams sentia a falta de legislação trabalhista que protegesse os trabalhadores da época, submetidos a jornadas desumanas em um contexto de ascensão do capitalismo. O alvoroço social era evidente, e a ACM, ou YMCA, enfim permitia que os jovens encontrassem nos atrativos ligados aos prazeres uma válvula de escape saudável para suas vidas. A instituição se tornou um refúgio para muitos, promovendo não apenas a prática de atividades físicas, mas também o desenvolvimento espiritual e intelectual dos associados.
Com um emblema representando o equilíbrio dos valores básicos do ser humano, a Associação Cristã de Moços se destacava por seus princípios morais e espirituais imutáveis. A ideia de fraternidade era vivenciada de forma genuína entre os membros, evitando choques de interesse e cultivando um ambiente livre de sentimentos egoísticos. Empresários viam na instituição uma oportunidade de seus empregados se dedicarem ao estudo e trilharem um caminho de decência e honestidade, longe das seduções malignas presentes nas grandes cidades.
O fundador, George Williams, personificava o conceito de ‘cristianismo atlético’, buscando unir a prática esportiva com os valores cristãos em um contexto de transformação social. Sua trajetória de superação pessoal e conversão ao cristianismo o levou a criar uma instituição que se tornaria referência mundial em promoção do bem-estar físico, mental e espiritual dos jovens. A Associação Cristã de Moços continuou a se expandir, adaptando-se aos desafios e necessidades de cada época, mas mantendo sempre sua missão de servir e educar, sem intuitos comerciais ou políticos, mas com um ideal religioso que permeia todas as suas ações.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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