A Brasil SA tem alto nível de endividamento, perspectivas de crescimento econômico final de semana, com taxas de juros elevadas.
Neste último fim de semana, estive presente em um encontro voltado para profissionais de finanças corporativas, incluindo executivos de controladoria, planejamento, estratégia e áreas correlatas. Fui responsável por abordar as projeções para as economias global e do Brasil. Durante minha apresentação, destaquei a importância de estar atento às taxas de câmbio e de juros, que impactam diretamente as decisões financeiras das empresas.
Em relação às taxas de juros elevadas no cenário econômico atual, é fundamental que as organizações brasileiras estejam preparadas para lidar com esse desafio. As taxas brasileiras podem influenciar significativamente a rentabilidade e a viabilidade de investimentos, exigindo uma análise criteriosa por parte dos gestores financeiros. É essencial buscar estratégias que minimizem os impactos das taxas altas e garantam a sustentabilidade dos negócios a longo prazo.
Reflexões sobre as Taxas de Juros Brasileiras e o Crescimento Econômico
A partir de uma provocação que fiz durante minha fala, surgiu uma pergunta sobre se as altas taxas de juros brasileiras não seriam, de fato, um entrave para o crescimento econômico do país. Se realmente o Presidente Lula não estaria certo em reclamar do atual patamar das taxas de juros. Como o tempo é curto e, felizmente, tínhamos mais pessoas pedindo o microfone, não pude aprofundar e respondi o adequado e suficiente para o momento, mas fiquei pensando cá com meus botões que muita gente deve ter a mesma dúvida. Vamos então abordar este tema por meio de uma analogia.
Imagine que o Brasil é uma empresa e que você ao nascer ou se mudar para cá ganhasse um lote de ações. É como se todos que aqui morassem fossem acionistas do país. O Brasil, contudo, é uma empresa com alto nível de endividamento. Quando comparado aos concorrentes internacionais sua dívida é mais alta e de prazo relativamente mais curto, o que o leva a ter de oferecer taxas mais elevadas para conseguir captar os recursos de que precisa.
A contrapartida das elevadas taxas de juros e do elevado nível de endividamento é uma dívida cara, e alta despesa para pagamento de seu serviço, ou seja, a estrutura das despesas pressiona o resultado da companhia. Este quadro eleva a percepção de risco e os potenciais investidores em títulos de dívida tendem a pedir mais juros para comprar seus títulos. Para complicar a Brasil SA também tem um custo de produção alto.
Uma folha de salários cara na alta administração (Três Poderes), uma estrutura de despesas engessada com muitos recursos já carimbados na origem, uma infraestrutura sucateada, sistema tributário caótico e baixa produtividade, etc. Olhando pelo lado da receita e para o futuro, a coisa também não vai bem. Custo de produção alto implica em preços mais elevados em busca de alguma margem o que nos torna menos competitivos em relação aos demais concorrentes. A solução passa por proteções aos produtos locais e moeda desvalorizada para compensar nossa ineficiência.
Olhando adiante a pauta de investimentos é pouco inspiradora. Como o resultado operacional é ruim não restam recursos para investir em infraestrutura e, para piorar, boa parte deles não trazem o retorno esperado, caso da saúde e da educação. Esta, por exemplo, continua patinando nos rankings internacionais, como o PISA, a despeito do expressivo aumento de recursos obtido nos últimos anos. A alta administração, porém, parece não perceber tais dificuldades e insiste em criar despesas sem contrapartida em resultados, tais como quinquênios, desonerações, fundos eleitorais, aumentos de salários, etc.
Considerando tudo isto, a melhor resposta para aquela pergunta sobre se as taxas de juros seriam um entrave para o crescimento deveria ser não. Hoje ela está mais para consequência do que para causa do problema. Ou seja, antes dela é preciso resolver muita coisa. Redução de custo sempre ajuda, mas não resolve. Investidores quando analisam as alternativas à sua disposição, tanto de dívida quanto em ações, certamente levam em consideração não apenas as taxas de juros, mas também as perspectivas para o crescimento econômico, o nível de endividamento, e o impacto das altas taxas de juros brasileiras no cenário global. É fundamental uma visão abrangente e estratégica para lidar com os desafios atuais e futuros.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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