Ilana Pinsky, psicóloga e pesquisadora, aborda saúde mental e conexões com a sociedade. Preocupações sobre uso de substâncias psicotrópicas, incluindo cannabis.
Por muitos anos, o consumo de maconha no Brasil tem sido um tema controverso. Após atingir seu ponto mais baixo em 2005, o uso de maconha cresceu gradualmente até 2015, quando os números começaram a se elevar de forma mais expressiva.
Além disso, a cannabis tem sido objeto de debates acalorados em várias partes do mundo. Em 2020, a legalização da cannabis para uso recreativo em alguns países gerou discussões sobre os impactos sociais e econômicos dessa medida.
Impacto da Legalização da Maconha nas Mudanças Culturais e de Consumo nos EUA
O crescimento do consumo de maconha nos Estados Unidos está intrinsecamente ligado à legalização da maconha medicinal no país e às transformações culturais e de mentalidade dos norte-americanos. A percepção de que a maconha não traz danos à saúde tem impulsionado esse cenário.
Os especialistas em substâncias psicotrópicas estão cada vez mais interessados não apenas no uso de drogas, mas nos padrões de consumo dessas substâncias. Um estudo recente publicado na revista científica Addiction analisou a evolução do consumo de cannabis nos EUA desde 1979, revelando dados significativos.
Durante um período de 30 anos, de 1992 a 2022, a taxa per capita de uso diário ou quase diário de maconha aumentou impressionantes 15 vezes. Pela primeira vez, o número de usuários frequentes de maconha ultrapassou o de consumidores regulares de bebidas alcoólicas, totalizando 17,7 milhões de pessoas.
Em contraste, o consumidor médio de álcool relatou ter bebido em média de 4 a 5 dias no mês anterior, enquanto o usuário médio de maconha afirmou ter consumido a substância de 15 a 16 dias no mesmo período. Essa mudança nos padrões de consumo de maconha ao longo dos anos é notável.
O consumo de maconha, que costumava ser esporádico e associado a momentos de lazer nos fins de semana, agora se assemelha mais ao consumo de tabaco. Cerca de 40% dos usuários de maconha utilizam a substância diariamente ou quase diariamente, indicando uma mudança significativa de comportamento.
Apesar das expectativas otimistas de que a maconha substituiria o consumo de álcool de forma menos prejudicial, os dados atuais mostram que a redução no consumo de álcool foi mínima. Entre 2008 e 2022, a prevalência do uso frequente de maconha cresceu 269%, enquanto o consumo de álcool de alta frequência diminuiu apenas 7%.
O aumento do uso de maconha, especialmente de variedades de alta potência, traz consigo desafios como maior propensão à dependência e riscos de psicose relacionada ao consumo. Embora o consumo de maconha ainda seja menos prevalente que o de álcool, a tendência de crescimento merece atenção.
A experiência dos EUA destaca a importância de monitorar de perto a indústria legalizada de maconha, que pode influenciar os padrões de consumo e os produtos disponíveis. O surgimento de uma indústria multibilionária pode resultar em mudanças irreversíveis no cenário do consumo de maconha.
Fonte: @ Veja Abril
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