Crianças são ‘proibidas’ de ir a festas juninas por influência das religiões neopentecostais. Instituições ‘progressistas’ ampliam recorte cultural nas comemorações.
Por que as festas juninas das escolas estão recebendo outros nomes nos últimos anos, como ‘festa da colheita’ e ‘festa da tradição’? E por qual motivo alguns colégios até desistiram de juntar as crianças para dançar quadrilha e brincar de pescaria?
Qual será o futuro do evento junino nas instituições de ensino? Será que a festividade junina está passando por transformações significativas, ou será apenas uma adaptação temporária? As festas juninas continuarão a ser parte importante da cultura escolar, mesmo com as mudanças que estão ocorrendo?
Festa Junina: Uma Tradição em Crescimento
São duas razões principais: ⛪Em tese, a cerimônia homenageia santos católicos (São João, Santo Antônio e São Pedro), que não são cultuados por famílias evangélicas [entenda mais abaixo]. Com o crescimento das religiões neopentecostais no Brasil, o número de alunos que não são liberados pelos pais para participar das festas tende a aumentar. Ao trocar o nome da comemoração ou cancelá-la, a escola tenta evitar que parte dos estudantes se sinta excluída. A professora Rebeca Café, de 29 anos, por exemplo, nunca pôde participar da festa junina da escola quando era criança.
‘Tentavam explicar para os meus pais, evangélicos, que a gente só ia comer comida gostosa e dançar, mas não tinha jeito, eles achavam que era um culto a santos da Igreja Católica. Eu e mais quatro alunos da classe ficávamos de fora’, diz. ‘Agora, na escola [pública] onde trabalho, só três crianças da minha turma não são evangélicas. A alteração [do nome da festa] se fez necessária. Mas ainda acho que precisamos conhecer a história do nosso país, não importa a religião.’
💃No outro extremo, em menor escala, colégios mais ‘progressistas’ têm tentado transformar as tradicionais festas juninas em cerimônias mais abrangentes, para ‘celebrar outras crenças e culturas’ do país. Na Escola Vera Cruz (SP), por exemplo, o evento para o ensino médio passou a incluir outras tradições culturais brasileiras — o ponto alto não será a quadrilha, e sim um cortejo afro inspirado em São Luís do Paraitinga.
➡️Para Amailton Azevedo, professor de história da PUC-SP, não importa qual seja a razão de ‘abandonar’ a festa junina: será um equívoco do ponto de vista histórico e pedagógico. ‘Deixar de comemorar é dar de ombros para uma tradição secular da cultura brasileira, trazida pelos portugueses no século XVI, mas que assumiu marcas próprias e incorporou elementos culturais afro-indígenas’, explica. ‘As festas juninas são um patrimônio imaterial riquíssimo do ponto de vista histórico e cultural. É um erro abandoná-las e impedir as crianças de brincar. Esse conservadorismo é retrógrado.’ Ele também critica a postura de dissolver a festa junina (e todas as suas variantes regionais) e transformá-la em qualquer outra comemoração.
‘A celebração de outras culturas pode ocorrer em qualquer outra data do calendário escolar. Temos uma enorme gama de festividades brasileiras e internacionais.’
➡️Já a antropóloga Denise Pimenta, da Universidade de São Paulo (USP), reforça que não faz sentido resistirmos às mudanças. ‘A gente vê uma ascensão do início de um estado evangélico. A escola vai deixar de reforçar tradições católicas. Acho muito difícil que a festa desapareça, mas não vai mais se pautar por São João. Vai chamar, por exemplo, festa das tradições’, afirma. ‘No fim, foi isso o que o catolicismo fez. Era uma festa pagã que foi atrelada pela Igreja aos santos. Essas mudanças acontecem. A tradição não está morrendo: está se adaptando para continuar viva.’ E um lembrete: outras comemorações, mesmo que com motivações não
Evento Junino: Celebrando a Diversidade Cultural
festas, juninas, festa, da colheita, festa, da tradição, crescimento, das religiões, festas, tendem a, aumentar; São duas razões principais: ⛪Em tese, a cerimônia homenageia santos católicos (São João, Santo Antônio e São Pedro), que não são cultuados por famílias evangélicas [entenda mais abaixo]. Com o crescimento das religiões neopentecostais no Brasil, o número de alunos que não são liberados pelos pais para participar das festas tende a aumentar. Ao trocar o nome da comemoração ou cancelá-la, a escola tenta evitar que parte dos estudantes se sinta excluída. A professora Rebeca Café, de 29 anos, por exemplo, nunca pôde participar da festa junina da escola quando era criança.
‘Tentavam explicar para os meus pais, evangélicos, que a gente só ia comer comida gostosa e dançar, mas não tinha jeito, eles achavam que era um culto a santos da Igreja Católica. Eu e mais quatro alunos da classe ficávamos de fora’, diz. ‘Agora, na escola [pública] onde trabalho, só três crianças da minha turma não são evangélicas. A alteração [do nome da festa] se fez necessária. Mas ainda acho que precisamos conhecer a história do nosso país, não importa a religião.’
💃No outro extremo, em menor escala, colégios mais ‘progressistas’ têm tentado transformar as tradicionais festas juninas em cerimônias mais abrangentes, para ‘celebrar outras crenças e culturas’ do país. Na Escola Vera Cruz (SP), por exemplo, o evento para o ensino médio passou a incluir outras tradições culturais brasileiras — o ponto alto não será a quadrilha, e sim um cortejo afro inspirado em São Luís do Paraitinga.
➡️Para Amailton Azevedo, professor de história da PUC-SP, não importa qual seja a razão de ‘abandonar’ a festa junina: será um equívoco do ponto de vista histórico e pedagógico. ‘Deixar de comemorar é dar de ombros para uma tradição secular da cultura brasileira, trazida pelos portugueses no século XVI, mas que assumiu marcas próprias e incorporou elementos culturais afro-indígenas’, explica. ‘As festas juninas são um patrimônio imaterial riquíssimo do ponto de vista histórico e cultural. É um erro abandoná-las e impedir as crianças de brincar. Esse conservadorismo é retrógrado.’ Ele também critica a postura de dissolver a festa junina (e todas as suas variantes regionais) e transformá-la em qualquer outra comemoração.
‘A celebração de outras culturas pode ocorrer em qualquer outra data do calendário escolar. Temos uma enorme gama de festividades brasileiras e internacionais.’
➡️Já a antropóloga Denise Pimenta, da Universidade de São Paulo (USP), reforça que não faz sentido resistirmos às mudanças. ‘A gente vê uma ascensão do início de um estado evangélico. A escola vai deixar de reforçar tradições católicas. Acho muito difícil que a festa desapareça, mas não vai mais se pautar por São João. Vai chamar, por exemplo, festa das tradições’, afirma. ‘No fim, foi isso o que o catolicismo fez. Era uma festa pagã que foi atrelada pela Igreja aos santos. Essas mudanças acontecem. A tradição não está morrendo: está se adaptando para continuar viva.’ E um lembrete: outras comemorações, mesmo que com motivações não
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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