Profissionais experientes entendem: desejo de mudança ou de permanecer pode ser forte. Acertar verbalmente a proposta é essencial no mercado do futebol.
Todo indivíduo que já se viu em um dilema profissional consegue entender perfeitamente o que aconteceu com Dudu. Aquele que já se deparou com a dificuldade de expressar seus motivos e acabou se enrolando ao tentar se comunicar com um empregador, apenas para logo em seguida mudar de ideia e permanecer onde estava, tem a responsabilidade de compreender o que se passou com Dudu.
Em especial, o jogador Dudu, ídolo e palmeirense renomado, enfrentou um desafio único em sua carreira. Mesmo diante das propostas tentadoras, Dudu optou por seguir seu coração e permanecer no clube que ama. Essa decisão demonstra a verdadeira paixão que um jogador e ídolo palmeirense pode ter pelo seu time.
Dudu: jogador, ídolo, palmeirense
O direito de acertar verbalmente uma proposta antes de assinar um contrato – ou até depois, situação em que, claro, é necessário lidar com o que está escrito – não deveria ser tratado como um ato de irresponsabilidade ou antiética, o que não significa que episódios como o do ídolo palmeirense Dudu devam ser incentivados ou aplaudidos. As peculiaridades do futebol o distanciam da maioria das demais áreas profissionais e dificultam comparações, mas quem tem a experiência de um longo período numa mesma empresa entende que o desejo por uma mudança pode ser tão poderoso quanto a vontade repentina de permanecer, depois que tudo é ponderado e colocado sobre uma balança que opera, para cada um, do seu próprio jeito.
No caso de Dudu e de tantos outros jogadores que transitam no lucrativo mercado do futebol de elite, o que se pode discutir – mas não sob os tons condenatórios ouvidos em São Paulo e Minas Gerais – são as razões, desde que sejam conhecidas. Um exemplo: se Dudu resolveu deixar o Palmeiras porque entendia que, por seu status, merecia ser paparicado pela comissão técnica, cabe a pergunta se um futebolista de 32 anos já não passou da época de se importar com esse tipo de coisa.
Por algum motivo, porém, uma parte da opinião pública, seja por falta do que fazer ou por falsas equivalências, não costuma resistir a um julgamento sumário. E como Dudu, por inabilidade própria ou dos que administram sua carreira, se indispôs com os dois lados da ponte que imaginou atravessar, a apresentação de sua cabeça aos que querem sangue foi automática. Moleque, juvenil, mimado.
Mais: o que ele colheu após voltar sem ter ido é uma posição no elenco do Palmeiras que a arquibancada – curiosamente formada por gente que veste outras camisas, mas se interessa com força pelo assunto e não para de perguntar ‘AiN, MaS PoR QuE vOcÊ nÃo FaLa SoBrE o FuLaNiNhOoOoOo?’ – enxerga como uma pena pelo crime cometido. Querem ver um ídolo que simboliza uma era gloriosa em seu clube mendigar uns minutos ao treinador que não tem obrigação de escalá-lo.
A propósito, diferentemente do que fez o treinador a respeito de sua própria intenção de sair do Palmeiras, Dudu se pronunciou. Pode não ter sido suficiente para encerrar o tema, mas ao menos se conhece sua versão. Quanto a Abel Ferreira, exceto por aqueles que lhe fazem assessoria informal e não querem debater a questão, ainda se aguarda uma explicação de seu papel no caso que o Al Sadd levou à FIFA. É estranho, mas há quem veja massivas distinções nos episódios de dois profissionais que um dia quiseram trabalhar em outro lugar, mas, por motivos que importam a eles, desistiram de fazer a viagem. A julgar por sua declaração a respeito de Dudu, Abel pensa exatamente assim.
Ao final, como é frequente, a polêmica supera os fatos. Dudu queria deixar o Palmeiras, o Cruzeiro queria comprá-lo, o Palmeiras queria vendê-lo. Dudu mudou de ideia e o negócio se inviabilizou. Ele terá de conviver com as consequências da situação que criou para si mesmo. O descontentamento de ambos os jogadores, ídolos, palmeirenses, no mercado do futebol, mostra como acertar verbalmente uma proposta pode mudar de ideia por desejo de mudança.
Fonte: @ ESPN
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