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Viúva de indigenista destaca importância dos povos isolados na preservação da floresta e na sociedade brasileira.
A esposa do indigenista Bruno Pereira, morto há dois anos, em 5 de junho, ao lado do jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, na Amazônia, Beatriz Matos, enfatizou, em uma entrevista à TV Brasil, a necessidade de o povo brasileiro se aprofundar no legado deixado pelo indigenista para compreender a relevância dos povos indígenas, especialmente os povos isolados e recém-contatados, na preservação da floresta e da diversidade biológica do Brasil.
A valorização dos indígenas, nativos e povos originários é fundamental para a manutenção do equilíbrio ambiental e cultural em nosso país. Beatriz Matos ressaltou que a atuação dos povos indígenas na proteção da natureza é um exemplo a ser seguido por toda a sociedade, destacando a importância da preservação das tradições e saberes ancestrais para a construção de um futuro sustentável e harmonioso para todos. indigenista
Povos Indígenas: Importância da Preservação e Proteção
Ela desempenha o cargo de diretora de Povos Originários Isolados e de Recente Contato no Ministério dos Povos Indígenas (MPI). Dom tinha o plano de entrevistar lideranças nativas e ribeirinhas para elaborar um livro-reportagem intitulado ‘Estratégias para a Preservação da Amazônia’ e se encontrou com Bruno em Atalaia do Norte (AM) no começo de junho de 2022. Bruno, um indigenista experiente, havia se afastado da Funai em fevereiro de 2020 devido a discordâncias em relação às novas diretrizes sobre a implementação da política nacional indigenista. Desde então, atuava como consultor técnico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
Além de orientar Dom, Bruno planejava viajar para se reunir com lideranças de comunidades próximas à Terra Indígena Vale do Javari, a segunda maior área do país destinada exclusivamente aos povos indígenas e que abriga a maior concentração de povos isolados em todo o mundo. A última vez em que a dupla foi vista foi na manhã do dia 5 de junho de 2022.
Os corpos dos dois só foram encontrados em 15 de junho, quando as autoridades já haviam detido pelo menos cinco suspeitos de envolvimento no crime. Beatriz recorda que a família passou por momentos difíceis devido à falta de informações sobre os dois e viveu situações de insegurança até a confirmação das mortes.
‘Eles ficaram desaparecidos por 10 dias, o que gerou muita insegurança, pois não tínhamos confiança nas entidades responsáveis por buscar as vítimas e apoiar as famílias. Não recebemos o apoio necessário’, relatou Beatriz. A morte desses profissionais se tornou um marco na luta pelos direitos dos povos indígenas e pela preservação do meio ambiente.
De acordo com Beatriz, em 2023, com a mudança de governo, surgiu uma ‘esperança renovada, a ideia de que teríamos avanços na proteção dos povos da região e na reparação às famílias de Bruno e Dom’. No início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela foi convidada a trabalhar no MPI, na mesma área em que seu marido atuava.
Ela descreve esse período como desafiador, mas também como uma oportunidade de reconstrução familiar e profissional, de interromper a política de desvalorização da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e de resgatar o legado de trabalho de Bruno.
Povos Indígenas: Proteção dos Isolados e Preservação Cultural
Beatriz destaca a importância de desmistificar a ideia equivocada de que os povos isolados nunca tiveram contato com não indígenas ou mesmo com indígenas. Segundo a antropóloga, geralmente esses povos já tiveram algum tipo de contato, porém passaram por experiências traumáticas, sofreram violência, foram afetados por doenças e, por esses motivos, optaram por se distanciar de não indígenas.
A diretora da Funai relembra que, no final dos anos 1980, o Estado brasileiro começou a adotar medidas para respeitar essa decisão e garantir a segurança dos territórios ocupados por esses povos. Essa iniciativa de proteção, segundo ela, coincidiu com o processo de redemocratização e após as ações expansionistas incentivadas pela ditadura civil-militar na década de 1970, quando a sociedade brasileira precisava de uma abordagem mais consciente em relação aos povos indígenas.
Fonte: @ Agencia Brasil
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