Francisco Saboya, Embrapii presidindo, prioriza recuperação de altas inovações na política industrial no NeoFeed. Reprimarização, renda per capita em US$ 10.000, Brasil: país soja, ferro, só 10% participação, focus em commodities, projetos empresariais, Nova Indústria planejamento, financiamentos R$ 300 bilhões.
Brasília – Uma nação cuja economia é marcada pela indústria de soja e ferro. A cada ano, a performance econômica do Brasil é impulsionada pelas exportações dessas commodities agrícolas e minerais. Com um volume recorde no exercício anterior, esses produtos garantiram um superávit na balança comercial de US$ 98,838 bilhões, representando o melhor resultado desde 1989.
A indústria no país, que engloba não apenas a produção de commodities, mas também outros segmentos do setor industrial, desempenha um papel crucial na economia brasileira. Com uma diversidade de atividades e empresas atuantes, o setor industrial contribui significativamente para a geração de empregos e para o crescimento do país. Essa relevância se reflete nos números e indicadores econômicos, evidenciando a importância da indústria para o desenvolvimento nacional.
A luta contra a reprimarização na indústria brasileira
O frenesi com as lideranças nacionais, porém, tem ofuscado um problema crônico e crescente da realidade nacional: o completo desmonte da indústria, que está mergulhada em um processo de ‘reprimarização’ da economia. O termo é citado por Francisco Saboya, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), para definir o estágio em que o Brasil se encontra hoje.
Ao discorrer sobre o cenário da indústria da transformação, em entrevista ao NeoFeed, Saboya se agita na cadeira e recorre a números para embasar sua preocupação central: retirar a indústria da lona em que se encontra. ‘O fenômeno da desindustrialização acontece em países de renda mais elevada, em decorrência da criação de serviços tecnológicos avançados. Nestes países, encontramos uma faixa de US$ 20 mil de renda per capita. Mas no Brasil é diferente. De 2005 para cá, o país começou a se desindustrializar intensamente, com renda per capita de US$ 10 mil. O Brasil pegou uma doença de economia rica, sendo pobre. Precisamos escapar dessa armadilha, que tem sido armada com a aposta concentrada em commodities’, afirma Saboya.
No comando da Embrapii, órgão federal que está completando dez anos, Saboya tem a missão de selecionar e apoiar projetos empresariais que viabilizem as ambições do plano Nova Indústria Brasil, anunciado em fevereiro deste ano, com a meta de disponibilizar R$ 300 bilhões em financiamentos e mudar a realidade do setor.
Em uma década, a Embrapii apoiou projetos de 1.722 empresas de todo o país e de diferentes tamanhos. Com a oferta de dinheiro a fundo perdido, ou seja, sem necessidade de reembolso, já injetou R$ 1,28 bilhão em iniciativas, bancando cerca de um terço de cada projeto que patrocina.
Os outros dois terços se dividem entre a empresa contratante e uma das 94 instituições de pesquisa e desenvolvimento que são parceiras nacionais. Em tom crítico, Saboya alerta para a necessidade urgente de se fazer um reposicionamento industrial.
Se um dia a indústria foi protagonista das divisas produzidas pelo país, respondendo por mais de 22% do PIB, hoje não passa de mera coadjuvante, com participação de apenas 10%. Se nada for feito, corre o risco de sair de cena de vez. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
O desafio da indústria brasileira em meio à reprimarização
Por que a indústria se encontra na situação crítica que vemos hoje? Isso é resultado de um processo que se intensificou nos anos 2000. O Brasil cresceu enormemente no século passado. Foi uma das economias que mais avançaram, principalmente entre as décadas de 1950 e 1970. A China, ainda hoje, não cresceu como o Brasil cresceu em 1973, por exemplo, no apogeu do milagre econômico, quando o PIB Industrial cresceu 14,9%. Isso fez com que o Brasil representasse 2,8% da manufatura global no fim dos anos 1970. O que acontece é que abandonamos a indústria para olhar para outras prioridades. E, hoje, a gente vive catando migalhas, com crescimento anual de 1,1%, 1,2% ao ano. Estamos reduzidos a 1,4% da produção mundial, metade do que tínhamos 50 anos atrás.
Fonte: @ NEO FEED
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