‘El Pana’ e ‘La Chama’ são âncoras de veículos de imprensa independentes na Venezuela. Desde junho, 10 jornalistas foram presos.
Uma das mais recentes apresentadoras de notícias da televisão brasileira se posiciona em frente às câmeras, vestindo um blazer elegante e calça de alfaiataria, enquanto reporta as principais notícias do dia. Ela é reconhecida como ‘A Amiga’, expressão popular brasileira para indicar alguém próximo e confiável. No entanto, ela não é humana.
Na era da inteligência artificial, a presença de apresentadores virtuais, como ‘El Pana’ e ‘A Amiga’, está se tornando cada vez mais comum. Esses avanços tecnológicos estão revolucionando a forma como consumimos informações, trazendo uma nova dinâmica para a comunicação. A interação entre humanos e a IA promete transformar ainda mais a maneira como nos conectamos com o mundo ao nosso redor.
Inteligência Artificial na Geração de Âncoras de Televisão Venezuelano
El Pana e sua colega, conhecida como ‘La Chama’ ou simplesmente ‘a garota’, são frutos da inteligência artificial, embora apresentem uma aparência, fala e movimentos extremamente realistas. Essa inovação foi revelada em um vídeo recente. A criação desses personagens faz parte da ‘Operação Retuíte’ promovida pela organização Connectas, sediada na Colômbia, com o intuito de divulgar notícias de diversos veículos de imprensa independentes venezuelanos e proteger jornalistas em meio a um cenário de perseguição por parte do governo.
Carlos Huertas, diretor do projeto, explicou em uma entrevista que a escolha pela inteligência artificial para representar as notícias veiculadas foi estratégica. Em um contexto onde a repressão governamental atinge jornalistas e manifestantes, a utilização da IA se torna uma forma de proteção, evitando a prisão de indivíduos reais envolvidos na divulgação dessas informações.
A situação na Venezuela tem se agravado, com a detenção de pelo menos 10 jornalistas desde meados de junho, sendo que oito permanecem presos sob acusações que incluem terrorismo, conforme relatos de Repórteres Sem Fronteiras. A oposição e grupos de defesa dos direitos humanos apontam que tais prisões fazem parte de uma estratégia do governo para silenciar vozes dissidentes em meio ao conflito gerado pela eleição presidencial.
Apesar dos apelos por transparência, as autoridades venezuelanas têm se mantido em silêncio diante das solicitações de comentários sobre a iniciativa de jornalismo com IA. Tanto a oposição quanto o presidente Nicolás Maduro reivindicam a vitória nas eleições de 28 de julho, gerando um impasse político no país. Maduro, no poder desde 2013, conta com o respaldo do Tribunal Supremo e da autoridade eleitoral, que optaram por não divulgar os resultados completos da eleição alegando um suposto ataque cibernético.
Os protestos desencadeados após o pleito resultaram em 27 mortes e mais de 2,4 mil detenções de opositores e manifestantes. A violência e a repressão têm marcado o cenário político venezuelano, evidenciando a urgência de proteger os direitos humanos e a liberdade de expressão no país. A utilização da inteligência artificial no jornalismo representa um desafio e uma oportunidade de resistência diante das adversidades enfrentadas por jornalistas independentes venezuelanos.
Fonte: © G1 – Tecnologia
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